6.2.12

 a vida engana meus caminhos. mistura minhas texturas. relativiza meu tato. nada é certo ou palpável. lambuza-me de gosto amargos, secos, tontos, sabão, isopor, ácido e de vez em quando gotas de mel. e como criança penso que posso tudo, sou o rei do castelo de sonhos.
e ela ri quando ve todos evaporarem. do meu pânico. ri da minha confusao. da minha indecisão frente ao desejo e o destino. da minha falta de jeito. da minha ignorancia. das minhas pernas frouxas por caminhos mais faceis. da minha mente trouxa que segue trilhas ja exploradas. do meu choro debaixo da mesa por medo. do meu medo embaixo da alma por causa do 'nunca mais'. minha astronauta morreu de preguiça. minha bailarina de desilusao. minha revolucionaria de silencio. minha modelo em um pote de sorvete.
e ela ri ora facil, ora falso. ecoando pelas entranhas toda dor de nao poder escolher. como um carrasco que cumpre o seu dever. ve o lixo da vida e nada pode fazer. ve os amores desfeitos. a distancia dos amigos perfeitos. a sequencia de erros humanos desbaratar os mais belos finais felizes. certa de que todos a culpam. certa de que seu respirar confunde os mortais. seus passos turvam as aguas. mas ela não decide.
entao nos sentamos na beira do caminho, na beira do abismo, apáticos e amargurados. ela sem decisao e eu sem decidir.