22.10.10

Panis et circenses


Quando descobri que faria um ato no lixão durante o dia das crianças,soube que faria esse post. Estava consciente de que a ação me levaria a uma perspectiva concreta de tudo o que já li/estudei sobre os problemas sociais. Uma perfeita descrição do que vivi seria pobreza. No entanto, analisar esse quadro apenas pelo aspecto econômico é precipitado e limitado.

Aquelas pessoas simbolizam uma amostra dos problemas sociais em que vivemos hoje. O classificação de social desses problemas já prediz englobar a sociedade em todas as áreas: falta de perspectiva, apatia moral e intelectual, padrões desumanos e sobrehumanos, supervalorização da individualidade e do econômico.

Essa pobreza generalizada do ser humano me levou ao clássico poema “O bicho” de Manuel Bandeira. Enfim compreendi, o que fez daquele ser um bicho não foi a falta de comida, de casa.. Lógico que essas são necessidades básicas, mas o que o impede de evoluir é uma espécie de pobreza mor,que condiciona todas as outras. Pobreza de perspectiva, de pensamento. Em um minicurso jurídico cinematográfico, certo professor disse que os indivíduos são esmagados porque não conseguem se reconhecer/identificar no meio em que vivem. Faltam-lhes consciência da sua própria condição. Só conseguimos mudar o que conhecemos, casos diferentes disso são acidentais. O homem se torna um nem quem poderiam ser. Não pensa. Não é. Não age.

Descartes disse “Cogito,ergo sum.” O pensar vai além de entender um exercício ou um texto. Pensar é desenvolver idéias, criar, imaginar, o resto é são apenas cópias de pensamento.Hoje o Brasil está cheio de pessoas acostumadas a 'xerocar' pensamentos, por isso aceitam o cabestro da mídia,os cliches de impotência da política e a dominação cultural. Para mim humanizar não tem nada haver com direitos humanos ou um bom salário. A dignidade da pessoa humana não é limitada a uma esfera de sucesso econômico.

Dignificar um pessoa é ampliar a sua capacidade de compreensão, apreensão, divagação, criação. Potencializar o agir, o transformar, o ser.
(Essa é a maior pobreza, a limitação de alguém que poderia voar.)

PANIS ET CIRCENSES - OS MUTANTES

2.10.10

Seu navio carregado de ideais




Inspirada pelo clima eleitoral – eleitoreiro – e pela constante assiduidade do assunto entre os meus amigos resolvi escrever sobre as eleições. A leitura de um trecho de Alequis Tocqueville, um respeitável carro chefe da minha procrastinação literária, foi a gota d’água para minha opinião sair em litros.
“Príncipes tornaram a violência em uma coisa física, mas nossas repúblicas democráticas contemporâneas transformaram-na em algo tão intelectual quanto a vontade humana sobre a qual deve agir. Sob o governo absoluto de um único homem, o despotismo,para alcançar a alma, atinge o corpo, e a alma escapando dessas chicotadas, se eleva gloriosamente acima dele; mas nas repúblicas democráticas não existe o mesmo tipo de comportamento do tirano; a violência deixa o corpo solitário e vai diretamente à alma. O senhor não diz mais : ‘pense como eu ou morra’. Agora ele diz: ‘Você é livre para pensar diferentemente;você pode ficar com sua vida, sua propriedade e tudo o mais; mas a partir deste dia você será um estranho entre nós. Você pode manter seus privilégios na comunidade, mas eles serão inúteis para você, se você solicitas os votos de seus compatriotas, eles não lhe darão, e se você pedir somente sua estima, eles criarão subterfúgios para recusar-lhe isto também.Você permanecerá entre eles,mas você perderá seu direito de ser indivíduo singular.Vá em paz. Eu lhe dei sua vida, mas ela é pior do que a sua própria morte.”

O escrito retrata uma realidade evidente em nosso país. Viver em sociedade implica vestir uma camisa e estar sujeito a limites. Abrir mão de parte de você pelo todo. Mas aqui ninguém conhece a leis. Entretanto isso não nos eximi menos de seguir a cartilha.

A máxima é que o povo como soberano concede legitimidade aos seus eleitos para determinarem o que fazer ou não. Acontece que é comum em época de eleições acontecer um alardeamento para os cargos executivos em detrimento do Legislativo. Amanhã, iremos obrigatoriamente escolher nosso Legislativo, sem segundo turno ou borracha para apagar os erros. Eles serão a sua voz. Eles escolheram o tamanho,cor e estilo de camisa que todos teremos que vestir.

Eles não controlam você, controlam o todo e o todo é mais forte do que você. Uma compreensão limitada da democracia leva a supervalorização do executivo. Na prática os poderosos chefões deveriam ser os deputados, senadores e Cia. O cômico é que parte dos mesmos não tem conhecimento desse poder e são propícios a bagatelas, são cachorrinhos de qualquer empresário ou político mais inteligente.

Isso porque a maioria é despreparada, não sabe o que fazer e vai lá pra descobrir. Pelo bem de todos e, para não fugir a regra da nossa querida sociedade individualista, o meu – uma vez que serei responsável por aplicar tais leis – desejo que o população tenha evoluído durante esses 26 anos de democracia e saiba fazer boas escolhas na urna para todos os cargos.

MEIA NOITE - CHICO BUARQUE