24.9.11

Voluntário 35

A luz branca trgava o lugar criando um clima fantasmagórico. O silêncio era tão palpável quanto a ictericia das peles. Ouvia-se os susurros, os chinelos, várias vozes reunidas ali por uma mesma causa: toda a superioridade humana reduzida a notas de dinheiro. Viva o progresso da ciência diria Comte, o Positivista. Viva a liberdade de disposição do corpo diria Smith, o Liberal. A alienação do humano diria Marx, o Socialista. Mas todos nós um dia nos vendemos. Ele precisava acreditar isso. Todas as mentes brilhantes ou não um dia se prestaram a algum tipo de humilhação humana. Aquele bicho é o homem. Bandeira ecoava por todos as paredes da minha mente.
Até então não pensará naquilo. Mas os lençois brancos, as macas hospitalares, a luz anemica, as roupas alvas e padronizadas tornava impossivel expelir aquela verdade. Estava regorgitando as desculpas sempre simples, sinceras e capitalistas. Eram tantas quanto os sonhos, tantas quanto as ampolas de plásticas na sua cabeceira que no outro dia estariam cheias de sangue.
Abandonou seu leito e partiu pelo corredor, portas e macas, granitos e placas. Andou até nada, nada que tirasse seu sentimento de rebanho, nada que o acordasse daquele transe.
O que sobrou do homem perfectivel e sua louvavel capacidade de se superar? Ou seria ele apenas outro rato tentando não cair da rodinha da vida?
Passos contados de volta a enfermaria, ele perguntou-se quantos ainda faltavam para chegar. Até onde ele iria. E para onde realmente estava indo. Sorriu para seu reflexo no espelho. Cobaia ou não, ele repetia as mesmas perguntas que a humanidade se fez religiosamente durante séculos. Escreveu no canto do seu livro, o único pedaço de vida naqueles corredores mórbidos, seu novo mantra: A estabilidade é o fundo do poço. Então tentou imaginar se a frase a faria pensar que tinha sido uma boa decisão. No dia seguinte o galo cantaria e o seu sangue seria analisado, o remédio desceria pela garganta atestando o inicio do estudo.
Lembrou-se de todos os livros que lera, de todos os persongaens que fizeram coisas más pelos seus sonhos e dos que morreram sem fazer nada. Toda essa cama de gato ambulante, cheia de linhas morais tênues e frágeis o assustava, o sufocava. De alguma forma tudo estava muito errado. Sonhos não deveriam ser comprados, fazer o que se gosta deveria ser suficiente, o amor deveria ser tudo o que precisamos. Pessoas nao deviam se vender por notas de dinheiro. Mas ele só queria seguir adiante no meio do caos.

Um comentário:

  1. ser cobaia de testes deve ser, no mínimo, emocionante. e não naquele sentido positivo da emoção, sério.

    muito bem, dona Evelin. beijos!

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