8.4.12

O cacho perdido

Querida Senhora,
Desculpe-me por não trazer flores. Mas ainda sinto o seu cheiro no travesseiro. Hoje de manhã acordei pensando no seu pescoço, mas especificamente no cacho que pende da sua nuca. A toalha branca não tinha a marca do seu delineador. E as roupas não estavam no chão, os livros não estavam na cadeira. Lembrei da sua voz rouca dizendo que as manhas são frias por isso nao existem finais felizes matinais. Hoje não me levantei. Não tinha a senhora para ocupar a maior parte da cama. Fiquei lá deitadão com a minha preguiça e a minha solidão. Faz 3 anos que quebrei o copo de whisky barato, 1095 dias que te mandei pro inferno, 157 semanas que você me bateu e 24 horas que você morreu. São 10 horas da manhã o sol está triste, o mar está agitado. E as milhares de cartas que a senhora me pediu fazem uma bola de papel na minha garganta cortando o som, atrapalhando o ar. Hoje depois de chorar eu levantei e escrevi uma carta. Uma história de um cara que não estragou tudo. Um final feliz matinal. Sei que a senhora não vai lê-la mas eu não gosto de flores. Flores morrem, palavras não.

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