o meu copo está metade vazio. valerá a falta por um todo? os sorrisos que não dei apagarão o resto da historia? os amigos que não fiz suplantarão as velhas arvores que irrigam minhas raízes? as noites de sono são perdidas? os amores platônicos e os de verão são passado, presente ou futuro? aonde se esconde as possibilidades? seria elas meu bicho papo, a espreita, embaixo da cama, rangendo em meus sonhos, enchendo meus pesadelos, arrastando correntes durante o dia. o que fazer com a falta, que entra na casa sem pedir licença, come dos meus manjares e deixa as portas abertas. parte de mim é vida e a outra anda boemia com minha imaginação e meu desasosego, caminhando pelos becos rindo das minhas regras, trocando as pernas e chorando igual criança pelo que nunca foi. a falta me move como um trem a vapor. sempre ali, parte de mim mesma, sombra do meu sucesso, mal entendida. o que seria dos mártires sem a falta, sem o nó na garganta, sem o brilho de acreditar no que talvez - e quase sempre - nunca chegará a ser. o que seria da outra metade do copo, o que seria de uma alma farta, o que seria do tempo sem descanso, o que seria de mim sendo inteira... o que seria da sede?
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