28.2.11

Samba da Benção

                                                                      Comer, Rezar e Amar

Todas as vezes que vejo o nome dessa pátria adorada pelo mundo a fora, meu bip de curiosidade começa a gritar. A primeira vez que ouvi falar da história, foi em um programa sobre filmes e falava da estréia daquele que reuniu a eterna Pretty Woman, Julia Roberts, e a sensação espanhola do circuito independente, Javier Bardem. Lá dizia que essa mistura explosica havia sido um fiasco de bilheteria na terra do Tio Sam. Mas então ouvi o nome Bebel Gilberto, que faz parte da trilha sonora. Para você ele pode ser apenas um nome comum,mas para mim representa a porta de entrada para minha paixão pelo samba.Ela é filha do desafinado João Gilberto, que meu amigo, na minha humilde opinião é o suprasumo da bossa nova. Minha queridinha também escreveu uma música com o exagerado, Cazuza, a lindissima Preciso dizer que eu te amo. A cronologia então foi Cazuza - Bebel - João Gilberto - Mundo do samba. Não precisava de mais nada para querer ler/ver a história. O filme foi leve e gostoso de se ver. Sem apelo sexual, sem drama, sem apatia. Como sorvete em um domingo ensolarado.

Agora sim depois de explicar a escolha desse mês, voltemos ao lugar onde tudo é letras e imaginação: os livros. Durante a leitura não pude tirar da minha cabeça a sensação de auto-ajuda. Porémo livro é uma infinidade, uma icógnita que a tudo e nada pertence. Uma história de amor, livro de auto-ajuda, guia turistico, guia espiritual, diário de bordo, indefinido como qualquer ser humano. Atenção especial para as histórias espalhadas durante todo o livro, os milhares de casos sobre cada monumento, expressão e situações. Adoro colcha de retalhos, são alegres, tristes, interessantes, múltiplas. E o livro segue lindamente essa estrutura de casos à la colcha de retalhos.

É bem óbvio que o filme é dividido entre Comer (Itália), Rezar (India) e Amar(Bali). Há algum tempo vi uma charge, da qual não lembro muito bem, mas tinha três personagens: a "Quem Eu Era", a "Quem Eu Sou" e a "Quem Eu Queria Ser". E estavam todas juntas no mesmo lugar. A pessoa "Quem Eu Era" foi embora e a pessoa "Quem Eu Queria Ser" achou a "Quem Eu Sou" muito chata e por isso também partiu. Raramente temos coragem de alinhar coração, corpo e mente, para nos tornamos quem queremos ser. Geralmente, nós acostumamos a quem somos, culpamos a vida, nossa familia, amigos, e animais de estimação. Mas nunca assumimos que talvez nós não temos peito o suficiente. Porque na prática tudo é mais dificil e enfrentar nosso furacão de medos, inseguranças e marcas é sempre uma tarefa um tanto quanto desconfortável. Assim na maioria das vezes a pessoa "Quem Eu Queria Ser" acha a "Quem Eu Sou" horrível e tediosa. Acredito que a essência do livro seja essa: a história de alguém se tornando a pessoa quem ela queria ser.

Primeiro Roma, seus monumentos históricos e culinários. Quem nunca se apaixonou pela Itália? É incrivel como ela está em 90% de todos os roteiros ou sonhos de viagens. Assim como em 90% das cidades tem uma pizzaria ou sorveteria. Caso não queira engordar, pule essa parte do livro.
Olho para o Augusteum e penso que, no final das contas, talvez a minha vida na verdade não tenha sido tão caótica assim. É apenas este mundo que é caótico e nos traz mudanças que ninguém poderia ter previsto. O Augusteum me alerta para eu não me apegar a nenhuma idéia inútil sobre quem sou, o que represento, a quem pertenço ou que função eu poderia ter sido criada para executar. Sim, eu ontem posso ter sido um glorioso monumento a alguém -mas amanhã posso virar um depósito de fogos de artifício. Até mesmo na Cidade Eterna, diz o silencioso Augusteum, é preciso estar preparado para tumultuosas e intermináveis ondas de transformação.
Segundo a Índia, a parte espiritual foi bem complicada para mim. Por não concordar com uma série de posicionamentos, porém pude aproveitar vários conceitos e interpretações da autora para melhor esclarecer os que já tinha.
Devoção é diligência sem segurança. A fé é uma forma de dizer: "Sim, aceito previamente a maneira como o universo funciona, e acredito previamente naquilo que hoje sou incapaz de entender." Há um motivo pelo qual usamos a expressão "salto de fé" - porque a decisão de aceitar qualquer idéia de divindade é um salto tremendo do racional em direção ao desconhecido, e pouco me importa com quanto afinco os estudiosos de qualquer religião tentem fazer você se sentar junto a suas pilhas de livros e lhe provar, pela escritura, que sua fé na verdade é racional; não é. Se a fé fosse racional, não seria - por definição - fé. A fé é a crença naquilo que não se pode ver, provar ou tocar. Fé é mergulhar de cabeça e em velocidade total rumo à escuridão. Se de fato conhecêssemos previamente as respostas sobre o sentido da vida, a natureza de Deus e o destino de nossas almas, nossa crença não seria um salto de fé e não seria um corajoso ato de humanidade; seria apenas... uma prudente apólice de seguros. Não estou interessada na indústria dos seguros. Estou cansada de ser cética, a prudência espiritual me irrita e fico entediada e exaurida com o debate empírico. Não quero mais ouvir isso. Estou pouco me lixando para provas, demonstrações e seguranças. Tudo que eu quero é Deus. Quero Deus dentro de mim. Quero Deus brincando na minha corrente sangüínea da mesma forma que a luz se diverte sobre a água.
Detalhe: não consigo evitar ligação entre a voz interior dela, aquela que rugiu " Você não faz idéia de como é forte meu amor", seja o Aslam de C.S. Lewis.

E enfim a linda e subdesenvolvida Bali, onde ela encontra o "super de bem com a vida", portanto brasileiro, Felipe. Nota de desapontamento por ter sido interpretado por Javier que de tupiniquim não tem nada e abusou do portunhol no filme. Nota de contentamento: as brasileiras são classificadas como exuberantes e bem-arrumadas.
"Só existem dois assuntos pelos quais os seres humanos brigaram em toda a história: Quanto você me ama? e Quem é o chefe?" Todo o resto é, de alguma forma, administrável. Mas essas duas questões, o amor e o contro, são a perdição de todos nós, fazem-nos tropeçar e provocam guerras, tristeza e sofrimento.
Uma boa leitura, um pouco repetitiva e maçante em alguns trechos, mas altamente recomentável. Principalmente para as mulheres. Para os homens meu amigo recomendou o "Beber, Jogar e F@#er".

É melhor ser alegre que ser triste/Alegria é a melhor coisa que existe/É assim como a luz no coração/Mas prá fazer um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/Senão não se faz um samba não/O bom samba é uma forma de oração/Porque o samba é a tristeza que balança/E a tristeza tem sempre uma esperança/De um dia não ser mais triste não" .
Bebel Gilberto - Samba da benção

5 comentários:

  1. tenho vontade de assistir, mas ler... confesso: dá preguiça. apesar de fugir aos meus hábitos.

    ótima resenha! beijos. **:

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  2. Acho esse livro muito chato...não desce! Mas, quanto a sua resenha...que jeitinho único de resenhar. Muito legal! Excelente participação. =D

    Beijocas

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  3. Adorei sua resenha, o livro está na minha fila, esperando, esperando.... quem sabe um dia, srsrsr

    Beijos

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  4. Eu não costumo me interessar por livros de auto-ajuda, mas acabei abrindo uma exceção. Estava curiosa para ver o filme e gostei tanto dele (adorei a expressão "sorvete em um domingo ensolarado", é bem isso, hehe). Decidi ler o livro. Achei a leitura bem gostosa, talvez até porque, no momento, eu estava numa fase de transição também. 2010, para mim, foi o momento em que decidi parar de chorar pela pessoa que eu era e buscar aquela que eu queria ser (aliás, adorei o que você escreveu sobre isso!). Então posso dizer que foi bem interessante ler essa história! Adorei algumas citações - a que você destacou na Itália é minha favorita.

    Sua resenha ficou maravilhosa, muito criativa e bem escrita! Parabéns! :)

    Beijos!

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  5. Resenha perfeita!
    Adorei seu blog, meus parabéns.

    bjos, Tati

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