27.1.11

Sempre fui fascinada por Chico, desde a primeira música que se tornou a preferida "João e Maria". E recentemente pude ler o livro Chico Buarque - Histórias das canções, escrito por Wagner Homem. Uma ótima leitura, assim como diz a sinopse não é um songbook ou uma biografia mas as histórias das canções. E foi uma delicia descobrir os caminhos e motivações que originaram obras de arte como "O que será?" e outras não tão famosas mas nem por isso inferiores.

A intenção inicial era um texto sobre o primeiro episódio da minissérie Amor em 4 atos. Mas então venho o livro, as músicas, a identificação. Resolvi estender um pouco, não a ponto de falar de Chico, isso eu deixo para outros mais experientes." (...) Viva a música, viva o sopro de amor que a música e a banda vêm trazendo, Chico Buarque de Hollanda à frente, e que restaura em nós hipotecados palácios em ruínas, jardins pisoteados, cisternas secas, compensando-nos da confiança perdida nos homens e suas promessas, da perda dos sonhos que o desamor puiu e fixou, e que são agora como o paletó roído de traça, a pele escarificada de onde fugiu a beleza, o pó no ar, a falta de ar.(...)". Na época Carlos Drummond de Andrade falava sobre a recente composição e primeiro sucesso "A Banda".


Grande parte das suas composições foram feitas por encomendas, a arte pela arte, a arte pelo dinheiro, a arte pela mudança, a arte para as elites, para mim não importa desde que seja de qualidade. Um dos seus principais temas são as mulheres mas como ele mesmo diz "Depois da ditadura falam que artista só faz música para pegar mulher. Mas aí geralmente acontece o contrário, o artista inventa uma mulher para pegar a música." O livro também cita sua longa briga com a censura pelo seu engajamento militante e criticas da esquerda pela falta de músicas engajadas, cômico não?! Críticas que originaram uma ótima resposta "nem toda loucura é genial, como nem toda lucidez é velha".
Agora vamos ao episódio, o mais divertido de todos e com menos drama, Ela faz cinema. Duas histórias pra variar de  amor superficialmente entrelaçadas. Uma cineasta que está produzindo seu primeiro videoclipe e encontra inspiração nas obras do acaso." Letícia muito sábia não acredita em coincidências, para ela o mistério do acaso é um sinal do destino e deve ser respeitado.” Um comerciante árabe apaixonada pela voz do trem que é surpreendido pelo acaso e aprende na realidade a força dos seus ditados."Não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado."

"Ali estavam dois amigos que munidos de
desculpas matérias que deixavam para o
 futuro a busca de um grande amor."
Histórias agravadas pelas peculiaridades normais da vida. Escolhas, sonhos, ilusões, mentiras. E os caminhos bagunçados pelo acaso acabam se juntando por lindas músicas de Chico Buarque "Ela faz cinema" e "Construção", ensinando que "As vezes o que agente procura não é o que a gente procura, mas o que a gente encontra."
 
 " Distraídos os pombinhos nem imaginam que o acaso pode bater de frente com a Lei de Murphy."

Chego a conclusão de que todas as histórias se resumem a contos de fadas nos quais a vida é a vilã, a eterna antagonista. E o acaso a fada madrinha, destinado ajudar os aturdidos e desatinados mortais. Não só seriados, músicas, romances mas ontem, hoje e em todo o cotidiano da humanidade . Chico traduz isso muito bem, os vários tipos de amor para os vários tipos de pessoas. O lixo e o luxo dos nossos corações. 

"É Chico Buarque, sabe é poesia,é forma,
é melancolia e  também no fundo é tudo calculado."

Gostei particularmente desse episódio pela menor carga dramática e pelo narrador perspicaz e onisciente. As frases de efeito também agradaram essa fã de clichês que vós fala. Enfim, leiam, vejam, ouçam, se deliciem!


Um comentário:

  1. eu quase não vejo tv aberta, mas essa minissérie deu até vontade de assistir. vou ver se faço isso um dia. delícia de texto, Evelin! beijos. **:

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