11.10.11

meus pesames

 minhas palavras nao farão diferença.
sentimentos são                                      estrelas escondidas no céu.
mas sempre vou estar aqui.
olhando para o firmamento,
                                                     esperando para te segurar.
                                                       meus ombros de Atlas,
sempre estarão disponíveis.
daqui, tentando desvendar os sinais, os mistérios, as estrelas.
 lembrando que elas também se vão, um dia qualquer.
e quando faltar palavras, aquelas covardes,
                                                                                                       sempre fogem.
 minhas mãos permancerão estendidas,
 tentando mostrar que o fim nunca é o final.
que estavamos errados.
o tempo nao é uma linha.
                                      é um vento,                  é o eterno brincando                                  
                                                        uma onda,                                   de vida.


para uma amiga cheia de dor.

24.9.11

Voluntário 35

A luz branca trgava o lugar criando um clima fantasmagórico. O silêncio era tão palpável quanto a ictericia das peles. Ouvia-se os susurros, os chinelos, várias vozes reunidas ali por uma mesma causa: toda a superioridade humana reduzida a notas de dinheiro. Viva o progresso da ciência diria Comte, o Positivista. Viva a liberdade de disposição do corpo diria Smith, o Liberal. A alienação do humano diria Marx, o Socialista. Mas todos nós um dia nos vendemos. Ele precisava acreditar isso. Todas as mentes brilhantes ou não um dia se prestaram a algum tipo de humilhação humana. Aquele bicho é o homem. Bandeira ecoava por todos as paredes da minha mente.
Até então não pensará naquilo. Mas os lençois brancos, as macas hospitalares, a luz anemica, as roupas alvas e padronizadas tornava impossivel expelir aquela verdade. Estava regorgitando as desculpas sempre simples, sinceras e capitalistas. Eram tantas quanto os sonhos, tantas quanto as ampolas de plásticas na sua cabeceira que no outro dia estariam cheias de sangue.
Abandonou seu leito e partiu pelo corredor, portas e macas, granitos e placas. Andou até nada, nada que tirasse seu sentimento de rebanho, nada que o acordasse daquele transe.
O que sobrou do homem perfectivel e sua louvavel capacidade de se superar? Ou seria ele apenas outro rato tentando não cair da rodinha da vida?
Passos contados de volta a enfermaria, ele perguntou-se quantos ainda faltavam para chegar. Até onde ele iria. E para onde realmente estava indo. Sorriu para seu reflexo no espelho. Cobaia ou não, ele repetia as mesmas perguntas que a humanidade se fez religiosamente durante séculos. Escreveu no canto do seu livro, o único pedaço de vida naqueles corredores mórbidos, seu novo mantra: A estabilidade é o fundo do poço. Então tentou imaginar se a frase a faria pensar que tinha sido uma boa decisão. No dia seguinte o galo cantaria e o seu sangue seria analisado, o remédio desceria pela garganta atestando o inicio do estudo.
Lembrou-se de todos os livros que lera, de todos os persongaens que fizeram coisas más pelos seus sonhos e dos que morreram sem fazer nada. Toda essa cama de gato ambulante, cheia de linhas morais tênues e frágeis o assustava, o sufocava. De alguma forma tudo estava muito errado. Sonhos não deveriam ser comprados, fazer o que se gosta deveria ser suficiente, o amor deveria ser tudo o que precisamos. Pessoas nao deviam se vender por notas de dinheiro. Mas ele só queria seguir adiante no meio do caos.

18.9.11

brasiliano, graças a Deus.

As vezes me sinto um lusitano a espera de milagres.Um sebastiano orando baixinho e suspirando a altares. Outras, como um mouro procurando uma jugular, declarando guerra santa a procura de acertar. Pego-me igual a um nativo, admirando a natureza e o estrangeiro, a lavar alma e corpo, a me enganar por bobos atras de dinheiro. Sou levado para fora de mim, como um negro fora de casa, escravo sem sentido separado pela raça. Dançando pra lua, gingando pro sol, lutando contra mordaça. Porém, no final sou apenas um brasileiro, fazendo graça pela via crucis, desbundando a vida infeliz, brindando e celebrando minha raiz.


"Ah! abre a cortina do passado, tira a mãe preta do cerrado, bota o rei congo no congado.Brasil! Pra mim!." Aquarela do Brasil

1.8.11

Coisas incriveis acontecem com você? Hoje fui tomada de assalto por delirios. Provavelmente fruto de uma noite conturbada. Seria a única explicação plausivel já que a outra me levaria a um manicômio ou a um...Oh meu Deus, custa-me admitir...otimismo. Acordei e assim quando pisei o chão, senti um frio na espinha que instantaneamente ativou todas as minhas células, trazendo uma estranha vontade de viver. Assim que olhei no espelho ele me cumprimentou com um olhar mal humorado de quem foi interrompido. Então quando sai de casa os sons me invadiram como se eu destampasse uma caixa. E pouco a pouco fui me acostumando com cada um, o carro apressado, o vento apressado, a vida apressada. O ar tinha cheiro inconfundivel de café saindo de todas as casas, como chaminés, lembrando que teria um dia inteirinho a descobrir. Estiquei meus braços e uma estranha sensação de lego ambulante acompanhou o desencaixe do meu corpo. O sol atingiu minha pele como se quisesse fazer parte dela, igualzinho ao abraço de um amigo querido a muito distante. A vida impregnou minhas narinas, e meus passos se aplicaram um a um ao chão plano e deram olá a rotina. Assim, passo a passo, voltei ao confortável modus operandi. Penso repetidas vezes, como isso tudo é possível? Vejam só que disparate, o sol meu amigo? Um reflexo com emoções? E um cheiro conselheiro? Com certeza esse velho português tem enganado essa vista perfeita. Toda essa prosopéia sensitiva são coisas anormais. Onde já se viu o dia ser tão agradável e caloroso, e logo pela manhã!

"Hoje eu acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho. E desejar bom dia, de beijar o português da padaria." Zeca Baleiro - Telegrama

5.7.11

quem não gosta de samba bom sujeito não é

ah meu bom moço, gosto de uma viola com gosto,
do cantar da minha terra, da fala caipira e singela.
meus gemidos são puro rock'n roll, ah e como torço
pelo bis do grito das guitarras na minha cidadela.

jah sabe que meus pensamentos são positivos
mensagens de paz tiradas de um bom reggae
e o desafinado popular brasileiro sempre segue
a trilha que quebra meus cacos antes contidos.

mas na ponta da língua só tem lugar pra percurssão,
vinda de um compasso que sequestra minha aflição,
perdida em uma frenesia montada por pas de bourrée
que fluem do meu gingado e me fazem querer morrer.

morrer se parar de tocar, forçando meu pobre pé
a pisar direito no chão seco e azedo da realidade.
meu nego, de novo recito o verso com vontade:
quem não gosta de samba bom sujeito não é!

24.6.11

os bravos são escravos sãos e salvos de sofrer.

Sabe aquelas coisas que você lê e fica indignada? Tive essa sensação há muito tempo atrás com esse artigo, Why Chineses Mothers Are Superior, e depois de finalmente revisar minha mini-desorganizada réplica resolvi posta-la.
"Chinese parents demand perfect grades because they believe that their child can get them. If their child doesn't get them, the Chinese parent assumes it's because the child didn't work hard enough. That's why the solution to substandard performance is always to excoriate, punish and shame the child. The Chinese parent believes that their child will be strong enough to take the shaming and to improve from it."
Concordo com exigirmos o melhor dos nossos filhos desde que ajudemos os mesmos a conseguir o melhor. Mas não creio que a solução para o fracasso seja criticá-lo, xinga-lo, denegri-lo. Pais ocidentais se preocupam sim com a auto-estima dos seus filhos, o que eu acho importante. O defeito dos mesmos e esperar algo dos filhos e não se comprometerem com o que desejam, ajudando-os. Assim eles se sentem incapazes de exigir algo, o que de fato são.

Vou exigir o melhor do meu filho, mas ao contrário da autora do artigo, não vou impor as minhas opções a nenhum dele. Porque acredito que a cultura é plural, a música é plural, a dança é plural, os livros são plurais... Imagino que ela ache digno limitar as atividades extracurriculares das filhas por vir de um cultura não miscigenada. Se ela nascesse no Brasil saberia o quão maravilhoso pode ser a multiculturalidade como forma de multiplicar conhecimento. Mas eu sou o tipo de pessoa que coloco a cultura - de todos os povos - no topo da educação. No entanto somos de realidades distintas, lá eles devem seguir uma tradição e se orgulham disso. Enquanto a tradição do Brasil é o sincretismo.

 Acredito que a prática leva ao sucesso.  É certo que quando a criança fizer o que faz bem, ela se sentirá feliz, independente se foi escolha dela ou não. Afinal todos gostamos de vencer. Porém um filho que não sabe perder ou se superar, gera um adulto incapaz de lidar com situações de fracasso, lembrando a velha máxima "perdedor é o que desisti". É importante lembrar o altissimo indice de suicidio entre os orientais.

"Anyway, the understanding is that Chinese children must spend their lives repaying their parents by obeying them and making them proud."
Os pais devem ter outras fontes de alegria. O que verifico do cultura oriental é esse ciclo de dependência e altas expectativas. Acredito que eles são felizes assim, ou não. Acontece que em todo regime existem felizes e infelizes. Minha opinião pessoal é de que em qualquer esquema baseado na dependência o resultado é frustação e extrema infelicidade. A maioria dos sacrificios devem ser gratuitos. Mas na prática esse desapego toda é muito mais dificil, né não Nietzsche?! É dificil advogar contra exemplos de sucesso como os grandes profissionais orientais e a própria Amy Chua, que é professora de Yale. Mas só quando você tem em perspectivam, que ser um sucesso é ter um grande carreira.

"Olha lá, quem acha que perder é ser menor na vida. Olha lá, quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar. Eu que já não quero mais ser um vencedor, levo a vida devagar pra não faltar amor." Los Hermanos - O Vencedor

19.6.11

as a friend, as an old enemy

não consigo tirar teu cheiro. volto sempre ao mesmo sapato velho na sala de estar. o mesmo tênis confortável de cinco anos atras. as velhas lembranças de paz, de nada, de tudo. quando tudo era paz porque todo o nosso tudo era nada. o meu tudo. porque eu não faço parte de você. mas ainda sim você continua manchando minhas paredes, jogando a toalha na cama e arrotando em frente a televisão. platão sofreu o mesmo que eu, mas como todo bom filosofo não encontrou solução. então vou continuar a te deixar no guarda-roupa, banhado de naftalina, revirado entra as blusas, casacos e lembranças da minha vida. quem sabe algum dia você decida ir embora.

as a trend, as friend, as an old memory, memory, memory. come as you are - nirvana


9.6.11

E quem irá dizer que existe razão...

Quebrei meu recesso forçado e obriguei esse rádio fraturado a escrever sobre essa data infame, o dia dos namorados. Ok, eu na condição de solteira também abomino e fico enjoada com a quantidade de silly love things que tem em torno desse dia. Mas a Agência África de publicidade e a O2 Filmes produziram para a Vivo essa beleza de curta.
Todo o meu patriotismo se resume a valorizar a produção cultural do meu país, o que ao contrário do que se pensa não é dificil, o Brasil tem uma cultura apaixonante, mesmo com toda servidão e neocolonialismo, milhares de artistas resistem bravamente. Na verdade não se trata de resistência, afinal não se fala de Brasil sem sincretismo, não temos uma cultura "pura", o que aliás seria extremamente sem graça e unilateral, trata-se da antropofagia como bem colocado por Oswald de Andrade. Mas voltando ao ponto principal, após ver o vídeo umas cinco vezes e cantarolar o meu refrão favorito do Legião, percebi o quanto essa história é especial.
Devo dizer que como qualquer pessoa normal adoro romances. Sim, todos gostam, podem discutir em relaçao ao tipo de romance, porém no fim todos adoram falar de amor. Por isso vemos tantos casais serem reproduzidos das mais diversas formas como Romeu e Julieta, Katherine e Headcliff, Capitu e Bentinho, Principes e Cinderelas, Noah e Allie, Carmem e Don José, Darth Vader e Padmé, cercados de todos os tipo de sentimentos e dramas possíveis.
Dentro de toda essa prosa, poesia, cordel, pinturas, desenhos, Renato Russo descreveu a trajetória de um casal na mesma velha linha de nascer, crescer, pagar imposto e morrer. Toda essa simplicidade e o refrão que resume tudo o que se precisa saber de amor, transformou-se em um dos maiores hits da década de 80 até hoje. Você pode não gostar de Legião Urbana, rock ou da Vivo. Mas com certeza você também não entende as coisas feitas pelo coração. A beleza de Eduardo e Mônica é que você pode encontra-los na rua, no onibus, no seu trabalho, no barzinho, em todos os lugares tem duas pessoas que se gostam muito tentando se conhecer melhor, brigando, segurando a barra, tend filhos. Estamos todos nesse barco sem rumo, ansiosos por chegar nesse pedacinho de felicidade que Renato Russo soube exemplificar tão bem.

"The greatest thing you'll ever learn is just to love and be loved in return." Nature Boy

29.4.11

faz tanto tempo que não te vejo

As mãos dela tremiam e a fala acompanhava esse ritmo pausado. A risada saia como a última respiração de um moribundo, mas ainda sim todos os olhos se enchiam de um brilho indescritível quando ela sorria. Ah, e como ela adorava toda essa atenção. Foram décadas de uma vida, não uma vida intelectual ou milionária, mas uma vida cheia de altos e baixos, e com essa experiência ela respondia as brincadeiras e rememorava causos.
Cabelos brancos, delicadamente amarrados por um lenço, os traços dos dias no rosto, as marcas do sol e do trabalho por toda a pele. Epiderme tão sensível quanto um tomate e enrugada feito marajuca. Mas isso não a incomodava, porque a beleza era passageira, de nada valia, isso ela fazia questão de repetir constantemente. Não víamos mais os seus dentes mas o seu senso de humor ainda estava ali, resistente e mais ávido do que nunca. Os anos não a derrotaram, nada pode derrotar espíritos livres, nem o medo, nem o descaso daquele quarto de asilo.
Com dificuldade os ouvidos se ajustavam para compreender as palavras, o som da voz daquela guerreira, as lágrimas eram contidas no peito, e a mente tentava afastar a lembrança de uma certa nordestina, que me ensinou a levantar sempre que caia, que me ensinou a dar sempre o melhor de mim e o valor da disciplina. Uma vózinha que partirá para longe. Então percebi que o câncer não derrota ninguém, os sussurros de criticas não destroem fortalezas, a ação do oxigênio não é suficiente para abalar pessoas de verdade. E aquela senhorinha simpática e espevitada era uma pessoa de verdade e me ensinara o valor disso, naqueles poucos quartos de horas compartilhados.
Sai de lá cheia, mas não de pena ou de alivio pelo ato caridoso. Sai de lá cheia de mundo, querendo absorver tudo o que a vida oferece, todos os baques, todas as glorias e ventanias, querendo alisar todas as linhas do globo terrestre, abraçar todos quantos conseguir, parar um tanque chinês, beijar todos os marinheiros ao fim de todas as guerras, pinchar o muro de Berlim, derrubar a estátua de Stálin, me esconder em todas as matas outrora usadas pela guerrilha cubana, tirar fotos épicas. E principalmente de ter a mesma alegria por viver. Depois que tudo isso tiver passado e os meus cabelos brancos forem minha coroa de glória, espero que a minha vozinha goste de quem eu me tornei.
Há vinte anos você nasceu ainda guardo um retrato antigo, mas agora que você cresceu, não se parece nada comigo.  Amanha é 23 - Kid Abelha

26.4.11

Principio das coisas que são o que parecem


Ando por ruas lúdicas que mudam de nome sempre que olho para trás.
 Passos em falso, jogadas perdidas, o presente tem forma de gás.
 Farei uma ação popular pelo controle incidental de inconsistencialidade.
 Toda essa abstração é contra o que resta da minha razoabilidade.

 Proponho uma lei tão pura quanto às respostas das crianças,
E tão empirica que deixaria Durkheim e Kelsen com status de invejoso.
 A Republica Democrática do certo contra a Ditadura do duvidoso.
Assim,tudo o que parece será, e as incertezas não mais ditarão as danças.

Os sentimentos serao compreensíveis e não réplicas de arlequins.
Os sentidos serão certos e a subjetividade terá a textura de pudim.
Aquela Velha Opinião será a Declaração Universal da Vida Palpável
Garantindo a falência do animus sacana da Realidade Inefável.

20.4.11

We all live in a yellow submarine



Back to the lines, após uma temporada prolongada de exilio digital que perdurará até que meu computador vire uma fenix e ressurja. Dei uma pausa dessa abstenção forçada em nome da literatura, ou melhor do desafio literário. Eis que temos o tipo de história que nos, os pós- modernos chamamos de viagem, no sentido mais canabis da palavra. Ficções cientificas são sempre alucinadas, some isso a universos paralelos, teorias da astrofísica e seres extraterrestres e você terá o extasiante e confuso Guia do Mochileiro das Galáxias.

Em uma espécie de teoria da conspiração contra o planeta Terra e os homo sapiens resididos no mesmo, o humor britânico tipico é destilado por Douglas Adams em uma série de histórias e personagens nada convencionais. A série é ótima, porém se você como eu não é familizarizado com a física, terá alguns momentos de confusão e poderá achar um pouco repetitivo. Mas nada que estrague a história. Dica: tente ler a série sem interrupção, você fica menos perdido devido a alta incidencia de coisas e conceitos novos.

Sim, agora o exemplar em questão, "Até, mais e Obrigado pelos Peixes". O titulo refere-se ao desaparecimentos dos golfinhos desde a primeira explosão da Terra. Considerados um dos mamíferos mais inteligentes, o livro brinca com a alusão de que esses são extraterrestres, que ao sentir o perigo vão embora e agradecem pelos peixes. O exemplar fala sobre a história de Arthur Dent( pra variar) e uma das minhas personagens favoritas, Fenny. Uma fofa love story, com direito a ausencia de gravidade e resolução de misterios. Desde o primeiro livro, Sir Adams fala da Fenny em uma ou duas páginas, como a menina que descobriu a solução das questões da vida e tudo mais, e a perdeu porque a terra foi destruida. Em uma terra paralela, a terra sobreviveu, e Fenny percebe que perdeu algo muito importante e se atrela ao desconhecido Dent em busca disso. Esse foi o livro mais romântico da série.

The Hitchhiker's Guide to the Galaxy oferece várias reflexões. Uma delas é a Mensagem Final de Deus para a Sua Criação: " Nos desculpamos pelo incomôdo". O livro contém várias referências sobre o ateísmo, teoria da evolução, e uma forte crítica ao cristianismo. Outra é o lema do Guia : Don't Panic. Deveriamos ler isso todos os dias.E o mais incrivel é o fato da serie ter sido escrita a 33 anos atrás. Hip, Douglas Adams.



Ps:Tinha algumas quotes que queria colocar aqui mas perdi minhas anotacoes.= (
Ps1: No livro 5, a Yellow Submarine e citada, alem disso acho tudo a ver com a insanidade do livro.

19.3.11

Dancing with myself


"Queria dançar sobre os canteiros,
cheio de uma alegria tão maldita que
os passantes jamais compreenderiam."
Caio Fernando Abreu
Lá vai ela na pista. Não tem ninguém pra olha-la. As preocupações ficaram na jukebox. Não tem há mais nada. If i had the chance. Estava tudo cheio segundos atrás. Agora é alfa, é música, é firework. As coisas não podem estar certas. Ela não cabia naquele lugar. Mas ela nunca coube em lugar nenhum. Grande demais para pessoas pequenas. I'd ask the world to dance. Sem rumo, sem destino, mãos e braços, coração. Pisadas, beijos, abraços, roda mundo, roda Chico. Casais apaixonados, solitários no bar, animais no sofá. E o espaço na pista está há anos-luz do resto do mundo. And I'll be dance with myself.  Longe do trabalho, dos sonhos, dos planos. Mas que lugar aconchegante. Aos ares toda sensatez, todos os segundos destinados a gravatas e formalidades. If i looked all over the world. A Via crucis de decisões e certezas era fragmentada pelo lazershot. Shakespeare as favas.  Casanova hell to the no. But your empty eyes seem to pass me by. Todo o drama mexicano foi passear com as tragédias gregas. Marimar e Édipo acabavam juntos em Bora-Bora. Ma petit, tudo vai acabar bem. Roda gigante, João, Kelsen, Cinderela, Platão. Todos saíram a francesa. O salão está vazio. Leave me dancing with myself. Apenas ela e o nada.

17.3.11

O arqueiro

Meus olhos eram sempre guiados para a capa verde. O coração palpitava, as mãos formigavam. Meus braços conheciam aquele sensação e se estendiam em direção ao objeto de desejo só para serem repreendidos pela mente que alegava ter coisas mais importantes para fazer. Desde a primeira vez que lera Bernard Cornwell, as primeiras linhas de um tal cavaleiro chamado Derfel, o vício se instaurou, como um daqueles vírus de filmes zumbis. Essa sou eu e meu interesse torpe, vadio e devastador por ficções históricas. E o escritor citado é o que tem a mais fina iguaria. Lembro-me do desespero para terminar a trilogia de Artur e o desespero depois que havia terminado. Afinal, todos os seres que outrora consumiam minha imaginação haviam partido. E, mesmo assim esse coração bandido se balançava todas as vezes que passava em frente as vistosas Crônicas Saxônicas e as histórias da Busca pelo Graal.

Um pouco exagerado? Talvez, mas só porque sou claramente apaixonada por esse gênero e especialmente por esse autor. E os caminhos atolados da vida misturado a obrigação de estudar me levaram a evitar uma nova overdose. Sim, porque uma trilogia não é o suficiente, se ainda existem três. Três maravilhosos volumes cheios de batalhas, amor, traição, e Europa medieval. Foi assim com as Crônicas de Artur e está sendo assim com a Busca do Graal. Dessa forma, a categoria épica do Desafio Literário foi imediatamente ligada pela minha mente ao nome do autor inglês. Por anos venho tentado evitar as setas desse arqueiro em forma de caneta, mas finalmente chegara a hora.

Ok, todo esse clima de ode é um pouco exarcebado. Afinal, a trama desse primeiro livro acabou se mostrando muito parecida ao das Cronicas de Artur. Isso porque "O Arqueiro" também é feito de batalhas épicas, guerras emocionantes, mulheres fatais, mulheres esposas, cavalheiros covardes, nobres guerreiros e um pouco de misticismo. Mas se você como eu ama história, vai adorar a riqueza do livro. O enredo se baseia no inicio da Guerra dos Cem anos, na disputa pelo trono francês, lá vai um pouco de wikipédia:
Felipe Valois pelo pai, era neto do rei Filipe III de França e foi nesta condição que se assumiu como pretendente ao trono em 1328, depois da morte do primo, Carlos IV. O rei deixara a mulher grávida e nasceu uma menina, tornando-se Filipe o novo monarca. Sua coroação não foi aceite pelo rei Eduardo III de Inglaterra que, por via de Isabel de França sua mãe, era sobrinho de Carlos IV e neto de Filipe IV o Belo. Os franceses, receosos de perder a independência, não aceitaram esta pretensão e evocaram a lei sálica, que impedia mulheres ou descendentes por via feminina de subirem ao trono francês. A questão resvalou para o conflito militar e foi a causa primordial da Guerra dos Cem Anos, iniciada em 1337.
Os homens de Skeat eram os senhores da Bretanha, um flagelo do inferno, e os aldeãos, a Oriente do ducado, que falavam francês chamavam-lhes hellequin, que significava cavaleiros do demónio. De vez em quando, um bando inimigo procurava encurralá-los, e Thomas aprendera que o arqueiro inglês com o seu enorme arco era o rei dessas escaramuças. O inimigo odiava-os. Se capturavam um inglês, matavam-no. Um homem-de-armas poderia ser feito prisioneiro, por um senhor seria exigido um resgate, mas um arqueiro era sempre assassinado. Torturado primeiro, e depois assassinado.
O nosso protagonista é Thomas, que não poderia ter um nome mais inglês. Um arqueiro cuja árvore geneologica lhe é desconhecida e vai reger a ala mistério da história. Filho de padre, tem sua pequena aldeia esfarelada por tropas atrás de uma das reliquias da cristandade. A lança de São Jorge que merece sua sitação na resenha apenas por ser um dos símbolos do meu tão amado Corinthians. Mas o guri continua sua vida, e se torna um arqueiro. A grande arma inglesa na guerra. E assim Cornwell adorna o livro com centenas de personagens nada lineares. Apesar da a dualidade bem x mal estar sempre presente, ela é acompanhada de uma série de liames psicológicos que desdobram as escolhas de cada um. Porque ninguém é mal ou bom, existem valores e escolhas. Viva os autores oniscientes.

Sou apaixonada pelas batalhas. Sei que não há nada de glorioso em guerras. É trágico, é doloroso e só Deus sabe o que acontece na cabeça de um soldado e de um país assolado por ela. Mas para fins literários não há nada mais dramático e empolgante. É a forma mais fácil de extrair o lixo e o luxo dos personagens. Bom quanto a época, quem nunca se imaginou em tempos remotos, colorindo a monarquia de bons momentos e vestidos maravilhosos. Poderia falar mais, mas sei o quanto resenhas podem ser cansativas para quem ler. Então fica a indicação de um livro ótimo, na verdade de um autor ótimo. E agora vou me entregar aos encantos desleais de uma boa leitura ao terminar a trilogia, antes que eu tenha um crise de abstinência.

28.2.11

Samba da Benção

                                                                      Comer, Rezar e Amar

Todas as vezes que vejo o nome dessa pátria adorada pelo mundo a fora, meu bip de curiosidade começa a gritar. A primeira vez que ouvi falar da história, foi em um programa sobre filmes e falava da estréia daquele que reuniu a eterna Pretty Woman, Julia Roberts, e a sensação espanhola do circuito independente, Javier Bardem. Lá dizia que essa mistura explosica havia sido um fiasco de bilheteria na terra do Tio Sam. Mas então ouvi o nome Bebel Gilberto, que faz parte da trilha sonora. Para você ele pode ser apenas um nome comum,mas para mim representa a porta de entrada para minha paixão pelo samba.Ela é filha do desafinado João Gilberto, que meu amigo, na minha humilde opinião é o suprasumo da bossa nova. Minha queridinha também escreveu uma música com o exagerado, Cazuza, a lindissima Preciso dizer que eu te amo. A cronologia então foi Cazuza - Bebel - João Gilberto - Mundo do samba. Não precisava de mais nada para querer ler/ver a história. O filme foi leve e gostoso de se ver. Sem apelo sexual, sem drama, sem apatia. Como sorvete em um domingo ensolarado.

Agora sim depois de explicar a escolha desse mês, voltemos ao lugar onde tudo é letras e imaginação: os livros. Durante a leitura não pude tirar da minha cabeça a sensação de auto-ajuda. Porémo livro é uma infinidade, uma icógnita que a tudo e nada pertence. Uma história de amor, livro de auto-ajuda, guia turistico, guia espiritual, diário de bordo, indefinido como qualquer ser humano. Atenção especial para as histórias espalhadas durante todo o livro, os milhares de casos sobre cada monumento, expressão e situações. Adoro colcha de retalhos, são alegres, tristes, interessantes, múltiplas. E o livro segue lindamente essa estrutura de casos à la colcha de retalhos.

É bem óbvio que o filme é dividido entre Comer (Itália), Rezar (India) e Amar(Bali). Há algum tempo vi uma charge, da qual não lembro muito bem, mas tinha três personagens: a "Quem Eu Era", a "Quem Eu Sou" e a "Quem Eu Queria Ser". E estavam todas juntas no mesmo lugar. A pessoa "Quem Eu Era" foi embora e a pessoa "Quem Eu Queria Ser" achou a "Quem Eu Sou" muito chata e por isso também partiu. Raramente temos coragem de alinhar coração, corpo e mente, para nos tornamos quem queremos ser. Geralmente, nós acostumamos a quem somos, culpamos a vida, nossa familia, amigos, e animais de estimação. Mas nunca assumimos que talvez nós não temos peito o suficiente. Porque na prática tudo é mais dificil e enfrentar nosso furacão de medos, inseguranças e marcas é sempre uma tarefa um tanto quanto desconfortável. Assim na maioria das vezes a pessoa "Quem Eu Queria Ser" acha a "Quem Eu Sou" horrível e tediosa. Acredito que a essência do livro seja essa: a história de alguém se tornando a pessoa quem ela queria ser.

Primeiro Roma, seus monumentos históricos e culinários. Quem nunca se apaixonou pela Itália? É incrivel como ela está em 90% de todos os roteiros ou sonhos de viagens. Assim como em 90% das cidades tem uma pizzaria ou sorveteria. Caso não queira engordar, pule essa parte do livro.
Olho para o Augusteum e penso que, no final das contas, talvez a minha vida na verdade não tenha sido tão caótica assim. É apenas este mundo que é caótico e nos traz mudanças que ninguém poderia ter previsto. O Augusteum me alerta para eu não me apegar a nenhuma idéia inútil sobre quem sou, o que represento, a quem pertenço ou que função eu poderia ter sido criada para executar. Sim, eu ontem posso ter sido um glorioso monumento a alguém -mas amanhã posso virar um depósito de fogos de artifício. Até mesmo na Cidade Eterna, diz o silencioso Augusteum, é preciso estar preparado para tumultuosas e intermináveis ondas de transformação.
Segundo a Índia, a parte espiritual foi bem complicada para mim. Por não concordar com uma série de posicionamentos, porém pude aproveitar vários conceitos e interpretações da autora para melhor esclarecer os que já tinha.
Devoção é diligência sem segurança. A fé é uma forma de dizer: "Sim, aceito previamente a maneira como o universo funciona, e acredito previamente naquilo que hoje sou incapaz de entender." Há um motivo pelo qual usamos a expressão "salto de fé" - porque a decisão de aceitar qualquer idéia de divindade é um salto tremendo do racional em direção ao desconhecido, e pouco me importa com quanto afinco os estudiosos de qualquer religião tentem fazer você se sentar junto a suas pilhas de livros e lhe provar, pela escritura, que sua fé na verdade é racional; não é. Se a fé fosse racional, não seria - por definição - fé. A fé é a crença naquilo que não se pode ver, provar ou tocar. Fé é mergulhar de cabeça e em velocidade total rumo à escuridão. Se de fato conhecêssemos previamente as respostas sobre o sentido da vida, a natureza de Deus e o destino de nossas almas, nossa crença não seria um salto de fé e não seria um corajoso ato de humanidade; seria apenas... uma prudente apólice de seguros. Não estou interessada na indústria dos seguros. Estou cansada de ser cética, a prudência espiritual me irrita e fico entediada e exaurida com o debate empírico. Não quero mais ouvir isso. Estou pouco me lixando para provas, demonstrações e seguranças. Tudo que eu quero é Deus. Quero Deus dentro de mim. Quero Deus brincando na minha corrente sangüínea da mesma forma que a luz se diverte sobre a água.
Detalhe: não consigo evitar ligação entre a voz interior dela, aquela que rugiu " Você não faz idéia de como é forte meu amor", seja o Aslam de C.S. Lewis.

E enfim a linda e subdesenvolvida Bali, onde ela encontra o "super de bem com a vida", portanto brasileiro, Felipe. Nota de desapontamento por ter sido interpretado por Javier que de tupiniquim não tem nada e abusou do portunhol no filme. Nota de contentamento: as brasileiras são classificadas como exuberantes e bem-arrumadas.
"Só existem dois assuntos pelos quais os seres humanos brigaram em toda a história: Quanto você me ama? e Quem é o chefe?" Todo o resto é, de alguma forma, administrável. Mas essas duas questões, o amor e o contro, são a perdição de todos nós, fazem-nos tropeçar e provocam guerras, tristeza e sofrimento.
Uma boa leitura, um pouco repetitiva e maçante em alguns trechos, mas altamente recomentável. Principalmente para as mulheres. Para os homens meu amigo recomendou o "Beber, Jogar e F@#er".

É melhor ser alegre que ser triste/Alegria é a melhor coisa que existe/É assim como a luz no coração/Mas prá fazer um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/Senão não se faz um samba não/O bom samba é uma forma de oração/Porque o samba é a tristeza que balança/E a tristeza tem sempre uma esperança/De um dia não ser mais triste não" .
Bebel Gilberto - Samba da benção

1.2.11

Dreamers of dreams



Entre musicas do Chico e viagens com Jack Kerouac percebi que esse é o primeiro dia de fevereiro e o recôndito texto sobre o segundo livro do desafio literario aguardava seu ponto final. Então, vamos exercitar a imaginação e fingir que ainda estamos em janeiro.

A fantástica fábrica de chocolate


Sabe aquela sensação de que o filme é melhor que o livro? Não? Antes de ler esse livro também a desconhecia. Mas porque isso? Ou melhor a QUEM se deve essa proesa. Em primeiro lugar, ao criativo Tim Burton. A história se passa em um ambiente surreal e a descrição não é suficientemente tolkieana, a meu ver. Sei que são lacunas abertas a imaginação do leitor, mas sou extremamente limitada em assuntos além da realidade minimamente palpável. E o excelente diretor soube completa-las brilhantemente, de forma única a ponto de te fazer pensar que não haveria outro jeito de ser.

Assim como não poderia existir outro Willie Wonka que não fosse Johnny Depp. Sorry Gene Wilder, mas Depp tem vocação para pessoas estranhas. Outro que se encaixou brilhantemente foi o Freddie Highmore, que pasmem tem a minha idade, e antes de ser Charlie foi o querido "August Rush". Tudo culminou na receita perfeita para uma adaptação impecável, acredito que até a mensagem da história ficou mais clara no filme, pelo feliz acréscimo da infância do Sr. Wonka.
Eles adoravam aquele menino. Era a única alegria da vida deles, e passavam o dia esperando a hora daquelas visitas. Muitas vezes o pai e a mãe de Charlie também entravam e ficavam encostados na porta, escutando as histórias que os velhos contavam. Assim, todas as noites, por cerca de meia hora, aquele quarto se tornava um lugar feliz, e a família inteira esquecia a fome e a pobreza.
Dahl fez uma obra-prima, um universo paralelo, admiro esse tipo de escritor. Sem seus escritos meu bajulado Tim não teria feito essa belezura. Não acredito que as histórias tenham que sempre passar uma lição. São boas apenas por serem histórias e portanto sementes da imaginação. Porém o escritor uniu o útil ao agradável. O comportamento dos outros quatro pequenos competidores são caricaturas dos diversos tipos de egoísmos tão comuns na história da minha família, das novelas e da humanidade em geral.

1- Augusto Gloop, o pequeno guloso
2- Violet Beauregarde, a competitiva e viciada
3- Veruca Salt, a mimada que tem tudo o que quer
4- Mike Teavee, obcecado por tv

Todos os que acharam o bilhete de ouro saem em uma jornada pela fantástica fábrica, e os defeitos de criação de cada um é revelado a cada sala.Tudo muito recheado com chocolate e pequenas apresentações dos esquisitos Oompa-Lumpas. É fácil constatar durante a narrativa que o todo fofo Charlie é um exemplo para crianças e adultos. A simplicidade em pessoa, aquele tipo ridicularizado pelos intelectuais que enchem a boca de desdém para falar "coração puro".
— Quer dizer que você foi o único que sobrou? — perguntou o Sr. Wonka, fingindo surpresa.
Não quero um adulto, que não me escutaria, não aprenderia nada e iria fazer as coisas do jeito dele e não do meu. Prefiro uma criança. Uma criança boa, sensata, carinhosa, a quem eu possa contar todos os meus segredos mais doces e preciosos, enquanto ainda estiver vivo.
Enfim, como li em uma resenha por aí, o tipo de livro que vou ler para os meus filhos. É altamente recomendado lê-lo ao lado de uma barra de chocolate devido ao alto de teor de lombrigas chocólatras irremediavelmente atiçadas pela leitura.


27.1.11

Sempre fui fascinada por Chico, desde a primeira música que se tornou a preferida "João e Maria". E recentemente pude ler o livro Chico Buarque - Histórias das canções, escrito por Wagner Homem. Uma ótima leitura, assim como diz a sinopse não é um songbook ou uma biografia mas as histórias das canções. E foi uma delicia descobrir os caminhos e motivações que originaram obras de arte como "O que será?" e outras não tão famosas mas nem por isso inferiores.

A intenção inicial era um texto sobre o primeiro episódio da minissérie Amor em 4 atos. Mas então venho o livro, as músicas, a identificação. Resolvi estender um pouco, não a ponto de falar de Chico, isso eu deixo para outros mais experientes." (...) Viva a música, viva o sopro de amor que a música e a banda vêm trazendo, Chico Buarque de Hollanda à frente, e que restaura em nós hipotecados palácios em ruínas, jardins pisoteados, cisternas secas, compensando-nos da confiança perdida nos homens e suas promessas, da perda dos sonhos que o desamor puiu e fixou, e que são agora como o paletó roído de traça, a pele escarificada de onde fugiu a beleza, o pó no ar, a falta de ar.(...)". Na época Carlos Drummond de Andrade falava sobre a recente composição e primeiro sucesso "A Banda".


Grande parte das suas composições foram feitas por encomendas, a arte pela arte, a arte pelo dinheiro, a arte pela mudança, a arte para as elites, para mim não importa desde que seja de qualidade. Um dos seus principais temas são as mulheres mas como ele mesmo diz "Depois da ditadura falam que artista só faz música para pegar mulher. Mas aí geralmente acontece o contrário, o artista inventa uma mulher para pegar a música." O livro também cita sua longa briga com a censura pelo seu engajamento militante e criticas da esquerda pela falta de músicas engajadas, cômico não?! Críticas que originaram uma ótima resposta "nem toda loucura é genial, como nem toda lucidez é velha".
Agora vamos ao episódio, o mais divertido de todos e com menos drama, Ela faz cinema. Duas histórias pra variar de  amor superficialmente entrelaçadas. Uma cineasta que está produzindo seu primeiro videoclipe e encontra inspiração nas obras do acaso." Letícia muito sábia não acredita em coincidências, para ela o mistério do acaso é um sinal do destino e deve ser respeitado.” Um comerciante árabe apaixonada pela voz do trem que é surpreendido pelo acaso e aprende na realidade a força dos seus ditados."Não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado."

"Ali estavam dois amigos que munidos de
desculpas matérias que deixavam para o
 futuro a busca de um grande amor."
Histórias agravadas pelas peculiaridades normais da vida. Escolhas, sonhos, ilusões, mentiras. E os caminhos bagunçados pelo acaso acabam se juntando por lindas músicas de Chico Buarque "Ela faz cinema" e "Construção", ensinando que "As vezes o que agente procura não é o que a gente procura, mas o que a gente encontra."
 
 " Distraídos os pombinhos nem imaginam que o acaso pode bater de frente com a Lei de Murphy."

Chego a conclusão de que todas as histórias se resumem a contos de fadas nos quais a vida é a vilã, a eterna antagonista. E o acaso a fada madrinha, destinado ajudar os aturdidos e desatinados mortais. Não só seriados, músicas, romances mas ontem, hoje e em todo o cotidiano da humanidade . Chico traduz isso muito bem, os vários tipos de amor para os vários tipos de pessoas. O lixo e o luxo dos nossos corações. 

"É Chico Buarque, sabe é poesia,é forma,
é melancolia e  também no fundo é tudo calculado."

Gostei particularmente desse episódio pela menor carga dramática e pelo narrador perspicaz e onisciente. As frases de efeito também agradaram essa fã de clichês que vós fala. Enfim, leiam, vejam, ouçam, se deliciem!


18.1.11

Eu acho tão bonito isso de ser abstrato, baby.


Os pés doloridos faziam o velho movimento vai e vem para amenizar a dor de um dia exaustivo e dos vários quartos de horas perdidos na espera do ônibus. Cheiro de gente, barulhos, resmungos, uma confusão de odores misturadas a conversas vazias. A mente solta vagava entre a frustação com coletivos e o mistério da mente alheia. Centenas de cérebros travados em pensamentos dispersos ou repetitivos, procurando soluções, formas de viver ou morrer. Compras? Jantar? Contas? Atitudes? Assim seguia o inquérito mental, até que surgiu um livro intrometido na multidão.
 Um bastardo de capa verde, nunca antes lido pelos olhos que o fitavam. Esses assustados com a nova descoberta se viraram novamente para os pés que pararam repentinamente. Então as íris voltaram pelo mesmo caminho,hipnotizadas pela recente aparição, que ousou atormentar todo aquele tédio e cotidiano cinzento, transparecendo a satisfação da garota por pessoas com livros, que são sempre mais interessantes que pessoas com sacolas, bolsas contra mãos superprotetoras ou salgados barulhentos. Nada possível de ser carregado em coletivos atraia tanto a moça quanto livros, e olha que a presente no passado dessa história já havia visto muitos objetos não identificados por esses ônibus a fora.

E o vórtice que a guiara até ali, interrompeu seu botões e a levou novamente para o mesmo lugar, para as mesmas mãos, para o mesmo Kafka e seu processo. O nome ecoou na sua mente e suas lembranças rapidamente se agruparam em torno do famoso escritor. Não era desconhecido, havia escutado certa vez em uma música, desde então o nome estivera em sua lista de leituras remotas. Junto vieram os típicos pré-conceitos  de qualquer coisa ou ser existente, cult, alemão, velho, difícil, muito bom ou muito ruim. E os botões que já voltavam a maquinar desistiram de lutar e seguiram os olhos através das mãos sem nome que tinham outras peculiaridades além do livro, como seus olhos puxados, um alfinete na orelha, a camisa de recicle, os apaixonantes all star chuck taylor e um ideograma tatuado na nuca.

O suporte perfeito para segurar um clássico de bolso. E lá foram seus botões viajantes novamente, por uma tarde em uma praça qualquer, um colo quentinho e uma conversa de ideias , músicas, formas, um autor e a tatuagem misteriosa. Seus curiosos olhos, agora olhariam para outros tão apaixonados por livros e pela vida quanto os dela. E ela começaria a pensar que talvez, só talvez, todas as coisas sobre amor a primeira vista ou alma gêmea fossem verdade. Sim, e enquanto aqueles olhos brilhassem como os delas ela poderia acreditar nisso.
 Então, lentamente ela foi percebendo o movimento a sua volta. O ônibus acabara de chegar.


11.1.11

mas os outros estão néscios pra Ti

Quando eu era pequena achava que poderia acreditar em qualquer coisa. Fé não era algo justificado, se eu apenas decidisse poderia eleger um bule como A Verdade. E isso validava todos os contos, lendas e fantasias um dia inventados, imaginados ou escritos. Com um pouco de criatividade encaixava tudo a realidade. Papai Noel distribuiria bons sentimentos, porque pelo estado do mundo era fácil deduzir que esses eram dádivas, raras e caras.

E essa fé rala me conduziu por um longo período. Isso pode ser coisa de criança, mas vejo muitos adultos por aí pensando da mesma maneira, relativizando os limites, os valores, tudo para eleger mentiras como verdade. É mais fácil apagar as fronteiras do que encontrar uma saída. Mas os caminhos se tornam sinuosos, as raízes superficiais, as perguntas freqüentes e as respostas insuficientes. A diferença da criança para o adulto é que a primeira acredita, assume, luta e o outro engana, foge e se perde. O que será de nós desesperados? A procurar loucamente pela verdadeira fé, esmagados pelo peso da covardia ou pelo medo do desconhecido. Perdidos em si, destacando cheques para cobrir a vergonha, urgindo de prazer para esquecer a voz que susurra fra..cas..sa..do. Pobres crianças perdidas.

"Eu leio Rookmaaker, você Jean Paul Sartrê. A cidade foi tomada pelos homens. Na cidade dos homens tem gente que consegue ler, mas os outros estão néscios pra Ti.Eu canto Keith Grenn, você canta o que? A cidade está cheia de sons. Na cidade dos homens tem gente que consegue ouvir, mas os outros estão surdos pra Ti. Vem jogando tudo pra fora. A verdade apressa minha hora. Vem revela a vida que é nova. Abre os meus olhos agora." Paginantiga - Rookmaarker

6.1.11

Child for a day


São 11:48 da manhã e está chovendo. Acabei de ler o primeiro livro do Desafio Literário. O menino do pijama listrado, escrito por John Boyne. Mas a sensação não é de alegria. Estou anestesiada depois de ter chorado. Sempre fico assim após finais tristes. E tudo o que consigo almejar é estar no meu colchão e lavar meu travesseiro em lágrimas. Antes,após leituras, eu ficava imaginando caminhos menos infelizes para as histórias, nos quais meus novos amigos não sofressem. Porque esses finais cortam meu coração, me dão vontade de entrar no livro e abraçar meus queridos antes que tudo termine. Mas desde que o anos se passaram, não posso agir mais como uma criança fantasiosa. Não é?!

Bom e o livro, na minha opinião, não trata de guerras ou amizade. Embora tenha tudo isso. Essa não era a intenção de Boyne, já existem inúmeros livros assim. Se trata de como uma criança vê as coisas. O que me lembrou de mim, das minhas teorias infantis, das minhas tentativas de fazer tudo fica melhor, do meu mundo imaginário. Se todas as decisões importantes do mundo fossem feitas por crianças como o Bruno, a Poliana ou o Shmuel teríamos dias melhores.
Qual era a diferença, exatamente?, ele se perguntou. E quem decidia quem usava os pijamas e quem usava os uniformes?
É claro que você dirá que é uma maneira simplista de abstrair a realidade. Mas eu quero dizer que se dane os métodos. Porque se pararmos e analisarmos todas as baboseiras que para nós,"adultos", tem um significado importante, veremos que no fundo não passam de futilidades. Porque, como é dito no livro, a diferença entre os dois lados era apenas a roupa. Daí os adultos podem inventar milhares de explicações complicadas, mas no fundo todos somos iguais, assim como as crianças veem.


Mas nada melhor do que o livro para contar sobre si mesmo e tripudiar sobre a estupidez dos ditos civilizados e instruídos.
“Eu nem mesmo gosto de listras”, disse Bruno, embora aquilo não fosse verdade. De fato ele gostava de listras e estava cada vez mais farto de ter que usar calças e camisas e gravatas e sapatos que eram pequenos demais para ele, enquanto Shmuel e seus amigos podiam ficar de pijama listrado o dia inteiro.
Bom, livros são como descobertas, e uma vez descoberto te acompanharão eternamente, nesse quesito quero ser uma exploradora para sempre.
Na maioria das vezes eles encontravam alguma coisa interessantes que estava lá, cuidando da própria vida, esperando para ser descoberta (como a América). Outras vezes descobriam algo que deveriam deixar em paz (como um rato morto no fundo do armário).O menino pertencia à primeira categoria. Ele estava lá, cuidando da própria vida, esperando para ser descoberto.

E a sipnose? Garanto que o google terá uma bem descritiva, então me atenho a dar minhas impressões pessoais. Com uma observação, embora o filme tenha sido fiel ao livro, o livro é mais leve e agradável. Primeiro, por ser um livro. rsrs Depois por não ser apenas mais uma história sobre o holocausto, e sim, a história de uma criança durante o holocausto. O que no fundo dá na mesma, com a diferença do livro ser mais legal. rsrs

"Somos os homems que se preocupam por nada/Somos os homems que brigam sem motivo/Não escutamos a ninguém, ainda assim falamos da nossa sabedoria/Somos os peões no jogo." Child for a day - Cat Stevens